SIR JAMES PAUL MCCARTNEY – 23/04/2012
Ontem, no estádio do Arruda, voltei
no tempo e realizei um sonho depois de 48 anos.
Era o ano de 1964, ano de instalação
dos governos militares, de dificuldades financeiras (para nós) de começar a
trabalhar “para sustentar a casa”. Mas era também o início da adolescência, com
todos os sonhos e paixões que tão bem a caracterizam.
Conhecemos The Beatles e Elvis
Presley nesse ano (apesar de alguns anos de estrada que eles já tinham) através
de um programa que escutávamos toda tarde na Rádio Olinda. Elvis, por ser mais “atrevido”
me conquistou aos primeiros acordes e comigo se mantém até hoje.
The Beatles eram quatro rapazes e
nós éramos quatro irmãs adolescentes, com sonhos molhados de muitas lágrimas e
dores. Nada mais natural do que dividirmos o famoso quarteto para nós quatro e,
“de posse” do seu Beatle, colecionarmos tudo que se referisse às sua vida e à
sua obra. Assim, Beth ficou com John, eu com Paul, Zita com George e Graça com
Ringo. Depois de nos tornarmos adultas, nunca mais perguntei se elas ainda
mantinham as preferências. Sei que naquela época havia álbuns de figurinhas em
preto e branco e cada uma tinha o seu mas tínhamos um trato para entregar a
duplicata que saísse ao “tutor” verdadeiro que as utilizava para enfeitar os cadernos
de escola.
Assistimos na matinê do Cinema
Atlântico (hoje Teatro Barreto Júnior) “A hard days night”, “Help”, “Magical
Mistery Tour” e “Yellow Submarine”, vibrando cada vez que o “seu” Beatle
aparecia. Quando voltávamos para casa, tínhamos assunto para muitas horas noite
a dentro.
Não tínhamos televisão, nem radiola
e não podíamos comprar os discos mas eu tinha uma amiga (colega de colégio) que
possuía tudo isso e eu sempre ia estudar com ela. Depois dos estudos passávamos
uma hora ouvindo os discos (LP de vinil) e aprendendo a cantar cada uma das
músicas deles. Até hoje ainda sei todas as músicas do início da carreira deles.
Todo esse passado me voltou ontem
quando sentei na arquibancada do Santinha para ver os Beatles, porque para mim
Paul McCartney sozinho era The Beatles. O coração acelerou, a voz embargou, os
olhos se encheram de lágrimas e eu não vi mais ninguém, a não ser ele, o lindo,
o competente, o “meu” Beatle.
De que importava se eu estava na
arquibancada e ele não passava de um pontinho luminoso no palco? Estávamos
respirando o mesmo ar. Mais distante ele estava quando eu o via nas telas do
cinema ou em reportagens diretas de Londres.
E o que me importava se a dura
realidade após o show era bem diferente daquilo, e se depois da manhã, como
Cinderela, minha carruagem se transformaria em abóbora cheia de contas de fim
de mês para pagar? Nada interrompeu meu êxtase!
Marquinhos, meu filho, não pode
calcular o tamanho do presente que me deu nos meus 63 anos. Os limites impostos
pela idade (naturais) desapareceram e ali estava a menina de 15 anos cantando “
A Day in a life”, “Eleanor Rigby”, “And I Love Her”, “Something” (que era de
George) e tudo mais que ele quis cantar daquela época ou da sua carreira solo.
E como ele cantou lindo...
Foram três horas de show, quarenta
músicas, sem intervalo nem para beber um copinho de água. E eu tive que comparar
com tantos brasileiros que cantam, no máximo, com o bis, vinte músicas e acham
que já fizeram o bastante.
Dia 18 de junho ele completa 70 anos
e continua com a energia e a carinha linda de menino.
Que o Universo possa sempre
conspirar a favor dele, porque o bem que ele transmite com as músicas e as
atitudes em favor dos animais, além de seu carisma pessoal, nos fazem pessoas
infinitamente melhores.
Inferno Astral já era! Estou em
estado de graça.
Viva Sir James Paul McCartney!!!